segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Costura


Luísa sempre gostou de lavar a louça.

Lá vem o tio Lauro, com seus 12 anos, dirigindo caminhão. Caminhão este do vovô Fabinho, que o dirigia quando um outro caminhão capotou. O caminhão, não o do vô Fabinho, o outro, carregava bilhares de botões transparentes. Os bilhares de botões capotaram com o caminhão. Imagino aquele mar de microdiscos cintilando o chão da Serra dos Orgãos com sua embalagens, conferindo um efeito molhado. Vô Fabinho, malandro que era -porém bondoso- catou pra si botões transparentes. Catou pra família. Vovô Fabinho morreu de tumor no cérebro. E cá estão eles. Os botões, ainda hoje. Se apresentando em todos os lugares. Nas almofadas que minha mãe recobre em períodos irregulares, nos vestidos de festa junina que ela nos fez, nas caixinhas de costura e de lembranças, atrás do móvel gigante com os eletrônicos ultrapassados na sala, nos olhos de boneca e urso que um dia a nossa criança foi capaz de humanizar.

Um comentário:

  1. Que lindo... apesar de um conteúdo meio dramático, lindo do mesmo jeito!!

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