quarta-feira, 17 de novembro de 2010


Quando eu era pequena minha avó costumava me levar pra cima e pra baixo no fusca bege o qual ela sucede no amor do meu avô, que buzinava muito e estava sempre se trancando com a chave dentro. Era preciso chamar o vizinho José pra dar um jeito. Anos depois José viria a me dar cantadas quando passva por lá. Que nojo. A questão é que um dia calhou de eu e o Bruno estarmos na mesma carona, no banco de trás do fusca. Eu sempre fui um poço de vergonha. Mas minha vó, ela não entendia. Mandou, ao chegarmos no meu ponto, que eu desse um beijo de despedida no meu primo. Pra mim, seria muito melhor me atirar da cacimba. E eu saí correndo, mas ela gritou tanto que eu tive um relâmpago de perturbação mental e voltei, dei um beijo na testa e corri, corri tanto que parecia que eu tinha visto um máscarado e estava correndo pra me enfiar na janela da Vó Gilma. Anos mais tarde, a lembrança de ele me dando uma miniautra de um garrafa de Fanta Laranja. Sinceramente, não sei se ele me deu ou se fui eu que roubei. Era minúscula, mas era idêntica, com direito a tampinha de alumínio, que eu abri e fiquei colocando Fanta Uva com o enorme desejo de que o rótulo também se convertesse porque eu não gostava da de laranja.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nicolívia


Obrigada, Tio José. Não é que não queiramos passar o Natal aí, mas a família não é nossa. Logo, tratamos de esperar a meia noite pra, depois de comer bem e ganhar de amigo oculto uma maquiagem pelo terceiro ano consecutivo, sair de fininho e deixar a mãe aos cuidados de Tia Joana, que também não está lá muito firme. Andamos do Vale do Cedro, escuro e carregado, até a nossa casa que fica no Centro Redentor, depois da Igreja. Luísa, esquecemos a chave. Ótimo. Ficamos com raiva de nós mesmas, pensamos na possibilidade de voltar pra buscá-la e logo descartamos por causa dos quilômetros, batemos no portão com a intenção ilusória de que ele se abra, sentamos derrotadas no degrau acima da calçada e aguardamos a vinda de alguém lá da festa. Esqueci de mencionar que levávamos o Nicolívia. Nicolívia é o violão que o pai, há anos, mandou consertar numa oficina onde o dono tinha o pai chamado Nicolau e mãe Lívia. Amo esse cara.
Liguei para João, pra ver se ele não estava por perto, o que seria até algo incomum. Não atendeu. Foi quando percebemos que um cara por trás das grades do parquinho estava querendo nos conhecer melhor. Vamos para a praça da Igreja, a outra. No caminho, vem o Edson, e o David. Desejamo-nos um feliz natal, vamos todos à praça. Quando lá, João me liga e conversamos. Lusai toca Nicolívia pra nós. Permanecemos no Banco verde e molhado por cerca de meia hora e então nossa mãe passa de carro. Feliz Natal.