domingo, 26 de setembro de 2010

Mães, melhor não tê-las


Porque todo o sofrimento ao qual as submetemos provoca culpa e nos tornará mães tão sofredoras quanto elas.

É, Mãe. O meu espanto em te ver guardando tanta coisa com tanta especificidade passou. O que acontece é que quanto mais se cresce, mais se divide os bens (ou tralha) em compartimentos de tamanhos variados. No estágio mínimo de vida, temos apenas a bolsa amnótica, seguido de um disparate de gavetinhas e armários com roupas do bebê. Depois, começa-se a fazer balé, e se tem uma caixa pra grampo, pra sapatilha e para passagens de ônibus até Pádua - como é caso dos mais psicóticos. E aí se muda para o litoral, e dispersa-se a nova vida solitária em bolsinhas e pastas, onde até as tampas de tanquinho tem um lugar. E isso me faz perceber que eu vou ser você cada vez mais. Veja você. Hoje, ao organizar meu álbum, me toquei que as minhas filhas também roubarão fotos dali e recortarão.Também quebrarão o tripé da minha máquina de filmar que eu esperei três décadas pra obter, também comerão chocolate escondido e alisarão o cabelo sem pedir permissão, com o dinheiro que era pra comprar sapatilha nova. Já estou até vendo as teias de aranha que a Dona Nilza deixa sem notar e que você morria ao ver que a Jose deixava pra trás, da mesma maneira. A história se repete, não tem jeito. E é por isso que sem querer ser sentimental clichê como sempre fui, eu ofereço a minha sina de mãe, desatenta e sonolenta como sei que vou ser, para os momentos em que se pegar perguntando'pra quê fiz essa displicente, sem capricho e desatenta?'.

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